sábado, 22 de maio de 2010

"Pinceladas de barro cor da pele
Cobrem minhas cicatrizes como carinho.
Todas as manhas antes de me iludir com a vida,
Lavo no escuro adocicado minhas pequenas pupilas,
Escorrego sabão nos filhos da pequena boneca.
Cubro a alma com uma pitada de lápis de sobrancelhas finas,
Faço-as ficar bem grossas, com perfil de misteriosa.
Minhas mãos já sabem de cor a forma de cada olheira,
Profundas de tanta chuva que tomou,
Como se cobrisse minha alma todas as manhas,
É como se a mim, só eu conhecesse.
Quando estou definitivamente numa pintura de baquear
Olho-me no espelho, o que vejo:
Um touro, uma donzela, um insecto, uma traça, um sonho.
Não sei bem se vejo ou delírio,
Mas crio coragem e abro a porta,
Quase sempre venta e lacrimeja.
Coloco a bagagem nas costas,
De costas me olho mais uma vez ao espelho
Sim, agora estou pronta.
Mensageiro do destino me perdoe,
Tenho presa, saiam da frente
Que o meu cansaço derrete o meu barro e,
A escultura cai.
Tenho presa, minha vida é passageira
E meu escudo de pele, moldado por cicatrizes.
Quando chego em casa sento-me, tiro os sapatos,
Calço minha essência e choro.
Quando a obra facial se desfaz,
Coloco as mãos sobre o rosto e sorrio,
Acendo uma vela, abro a torneira e lavo a minha alma
Agora, nua."

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